Em uma entrevista explosiva ao jornalista Thiago Suman, do Diário do Centro do Mundo (DCM), o ex-governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho fez uma série de denúncias graves envolvendo o governador Cláudio Castro, o Comando Vermelho (CV), integrantes do governo, da Assembleia Legislativa e autoridades ligadas ao sistema prisional e às forças de segurança do estado.
Garotinho afirma que a relação entre o governo estadual e a maior facção criminosa do Rio “subiu de patamar”, passando de infiltração em setores policiais para um suposto envolvimento direto com o núcleo político do estado. As acusações — que não foram comprovadas e não receberam, até o momento, respostas oficiais das partes citadas — reacendem o debate sobre segurança pública, interferência do crime organizado nas instituições e a condução das recentes operações policiais no Rio.
“A operação de Castro foi política”
Segundo Garotinho, que afirma ser alvo de ameaças e viver sob escolta, a Operação Contenção — ação policial que deixou 121 mortos no fim do mês passado — teria sido motivada por razões eleitorais.
Ele acusa o governo de “loteamento” de cargos estratégicos da segurança pública, permitindo que deputados estaduais indicassem comandantes de batalhões, chefias da Polícia Civil e delegacias. Afirma ainda que, durante o governo Castro, um contador do Comando Vermelho, conhecido como Abelha, teria deixado o presídio “pela porta da frente”, mesmo com mandado de prisão.
Garotinho sustenta que o governo teria adotado uma postura seletiva em relação às facções, com o CV crescendo territorialmente enquanto o Estado intensificava investigações contra o Terceiro Comando e a milícia.
O assassinato dos médicos na Barra
Ao relembrar o caso em que três médicos foram assassinados por integrantes do CV na Barra da Tijuca — entre as vítimas estava o irmão da deputada Sâmia Bomfim (PSOL) —, Garotinho argumenta que o episódio demonstra o grau de estruturação da facção:
“O Comando Vermelho investigou, prendeu, julgou e executou os próprios membros que erraram. Isso é um absurdo. Eles exerceram papel de polícia, Justiça e sistema carcerário.”
Segundo ele, o fato de integrantes do CV anunciarem abertamente o “julgamento” interno evidencia a fragilidade institucional do Estado.
O elo entre o governo e o CV: TH Joias
Outro ponto central nas acusações envolve o deputado suplente TH Joias, preso recentemente. Garotinho afirma que o parlamentar era “notoriamente ligado ao tráfico” e que circulava livremente em eventos com o governador, secretários e comandante da Polícia Militar:
“Publiquei foto dele abraçado com o comandante da PM. O comandante me cobrou. Perguntei: ‘O senhor não sabe que o cara é traficante?’”
Garotinho ainda relata ter recebido vídeos comprometendo o deputado com criminosos e diz ter sido alvo de atentados após divulgar parte desse material.
O caso dos fuzis do Exército
Garotinho também narra o episódio envolvendo o furto de armas em Barueri (SP) e sua posterior localização na Rocinha. Ele afirma que:
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Exército e PM preparavam uma operação conjunta para recuperar os fuzis;
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Um subsecretário da Secretaria de Administração Penitenciária teria ido ao Exército para dissuadir a ação;
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A devolução dos armamentos teria sido “negociada” diretamente com um líder do CV dentro de uma cela;
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Oficiais do Exército teriam entrado clandestinamente no presídio usando identidades de policiais penais;
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O caso teria sido abafado para evitar desgaste ao governo e ao Exército.
Essas alegações não foram confirmadas pelas autoridades.
“O governo de Cláudio Castro é do Comando Vermelho”
O ex-governador afirma categoricamente:
“O governo de Cláudio Castro é do Comando Vermelho.”
Ele responsabiliza diretamente o presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar, por ser o suposto “elo político” da facção com Palácio Guanabara, citando negócios suspeitos, contratos milionários e patrimônio “incompatível com a renda declarada”.
Garotinho diz ainda que empresários acusados de lavar dinheiro para o CV foram defendidos por Bacellar e fizeram doações para campanhas eleitorais.
“Eu sei onde o Doca está”
Um dos pontos mais sensíveis da entrevista é a afirmação de que o ex-governador saberia o paradeiro de Doca, chefe do CV no Complexo do Alemão e alvo principal da Operação Contenção:
“Eu sei onde o Doca está: em Paraisópolis, guardado pelo PCC.”
Ele sustenta que o PCC e o CV não disputam mercado, mas mantêm uma relação “complementar”: o PCC no atacado, o CV no varejo.
Bastidores do crime organizado e riscos pessoais
Garotinho relembra episódios envolvendo Sérgio Cabral, afirma não ter medo de morrer e diz acreditar que setores do Ministério Público, Justiça e segurança sofreram cooptação ao longo dos últimos governos.
Ele também alerta que TH Joias seria um ‘arquivo vivo’:
“Só me pergunto se vão parar no TH Joias. Ele sabe alguma coisa, mas não sabe tudo.”
Situação atual
Até o momento:
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O governo Cláudio Castro não respondeu às declarações.
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A Alerj não se manifestou sobre as acusações envolvendo Rodrigo Bacellar.
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Autoridades federais e estaduais não confirmaram as alegações de colaboração com facções.
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O Ministério Público não comentou o conteúdo da entrevista.
As declarações de Garotinho provocam forte impacto político e institucional, especialmente diante do cenário de crise na segurança pública fluminense.
Fonte base: DCM