A turbulência que atinge o governo Cláudio Castro nos últimos dias escancarou um movimento que há meses vinha sendo costurado nos bastidores: o avanço silencioso, mas implacável, do presidente da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), Rodrigo Bacellar, sobre os centros de decisão do Estado. Em meio à crise provocada pela exoneração de Washington Reis da Secretaria de Transportes, enquanto Bacellar ocupava interinamente o governo, uma realidade desconfortável se impôs: hoje, o governador está politicamente nas mãos do chefe do Legislativo.
A substituição de Reis — um dos principais aliados de Castro e nome de confiança do ex-presidente Jair Bolsonaro — foi apenas o estopim de uma disputa que vinha sendo abafada. A decisão de Bacellar de exonerá-lo durante sua curta estadia no Palácio Guanabara não foi apenas uma demonstração de força, mas um gesto calculado para testar até onde vai a autoridade do governador. E a resposta foi clara: Castro cedeu, evitou confronto direto e postergou qualquer reação institucional.
Nos corredores da política fluminense, o gesto de Bacellar é lido como um divisor de águas. Ele não apenas mostrou que tem maioria na Alerj, mas que também exerce influência direta sobre setores estratégicos do governo. A verdade é que “Castro está refém do próprio governo”, “Hoje, Bacellar tem a caneta na prática, e o governador tenta apenas sobreviver politicamente.”
A relação entre Bacellar e Castro vinha sendo marcada por tensões veladas desde o início do segundo mandato do governador. Nos bastidores, Bacellar articulou a montagem de uma base parlamentar sólida, que hoje lhe garante não apenas blindagem institucional, mas também poder de barganha em nomeações, liberação de emendas e controle de pautas legislativas.
Com a crise escancarada, aliados do governador temem que ele perca o controle da gestão em pleno andamento do mandato. “Essa instabilidade pode custar não apenas alianças, mas a própria viabilidade de sua candidatura ao Senado em 2026”.
A peça-chave dessa disputa foi o ex-prefeito de Duque de Caxias e ex-secretário de transportes Washington Reis, um dos principais articuladores políticos da direita fluminense. Sua presença no governo representava o elo entre Castro e a ala bolsonarista. Sua exoneração durante a ausência do governador foi vista como uma afronta direta a esse grupo.
Em resposta, Reis rompeu o silêncio e começou a articular novas alianças, com o apoio declarado de nomes como Wladimir Garotinho, prefeito de Campos dos Goytacazes, que afirmou: “Onde Washington estiver, eu estarei.” O gesto é mais um alerta sobre a fragmentação da base governista.
Com Castro enfraquecido, a movimentação de Bacellar alimenta rumores sobre seus planos para 2026. Enquanto o governador tentava se projetar como nome viável para o Senado, o presidente da Alerj parece pavimentar o caminho para voos mais altos — inclusive o Palácio Guanabara.
Fontes ligadas ao grupo político de Bacellar admitem que a crise atual foi “apenas o início” e que novas mudanças na estrutura do governo devem ocorrer nos próximos meses, com mais cargos-chave sendo preenchidos por aliados do presidente da Alerj.
Procurado, o governador Cláudio Castro ainda não se manifestou publicamente sobre o episódio. Sua equipe se limitou a dizer que “as decisões tomadas durante a ausência do governador serão reavaliadas com responsabilidade institucional”.
Nos bastidores, porém, a avaliação é de que Castro está acuado, em busca de uma saída que preserve sua autoridade sem romper de vez com Bacellar — algo que, neste momento, ele não teria força política para fazer.
Por Marcos Soares
Jornalista – Analista Político instagram.com/@marcossoaresrj | instagram.com/@falageraltv | www.falageral.com.br