A retórica de Luiz Inácio Lula da Silva, que insiste na ideia de uma “luta de classes” e na necessidade urgente de taxar mais pesadamente os ricos, ressoa como um grito de combate à desigualdade que assola o Brasil. No entanto, essa narrativa vigorosa encontra um desconcertante contraponto na recente decisão do Supremo Tribunal Federal que anulou uma cobrança tributária de R$ 18 milhões contra o próprio chefe do Executivo.
Esse perdão judicial, embasado na invalidação de provas obtidas na Operação Lava Jato, traz à tona uma reflexão inevitável sobre a coerência entre discurso e prática. Como confiar numa agenda que prega justiça fiscal quando seu principal defensor usufrui de um benefício financeiro tão expressivo? A contradição, mesmo que jurídica e formalmente justificada, cria uma percepção de dupla moral que pode corroer a credibilidade do projeto político de Lula.
É legítimo e necessário combater as desigualdades sociais e promover um sistema tributário mais justo, mas a política pública deve se sustentar na transparência e na equidade — para todos. Não se trata apenas de impessoalidade legal, mas também de ética e exemplaridade no exercício do poder. Quando a máxima da “luta de classes” não se aplica uniformemente, a polarização e a desconfiança se aprofundam, fragilizando o debate público e a própria governabilidade.
Além disso, a declaração de um patrimônio milionário pelo presidente reforça o debate sobre quem realmente são os “ricos” na mira da taxação. Há uma diferença entre promover justiça social e simplesmente retórica populista que agrada bases eleitorais, mas escapa do crivo da autocrítica.
Se Lula quer liderar uma mudança estrutural no Brasil, ele precisa mostrar que está disposto a jogar pelo mesmo conjunto de regras que exige para a população. O perdão de R$ 18 milhões não é apenas um episódio jurídico, mas um símbolo das complexas contradições que rondam sua administração.
Neste cenário, a luta por justiça social precisa ir além da retórica e se afirmar na coerência, na transparência e no compromisso real com a igualdade para todos — inclusive para quem está no topo do poder.
Por Marcos Soares
Jornalista – Analista Político
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A retórica de Luiz Inácio Lula da Silva, que insiste na ideia de uma “luta de classes” e na necessidade urgente de taxar mais pesadamente os ricos, ressoa como um grito de combate à desigualdade que assola o Brasil. No entanto, essa narrativa vigorosa encontra um desconcertante contraponto na recente decisão do Supremo Tribunal Federal que anulou uma cobrança tributária de R$ 18 milhões contra o próprio chefe do Executivo.Esse perdão judicial, embasado na invalidação de provas obtidas na Operação Lava Jato, traz à tona uma reflexão inevitável sobre a coerência entre discurso e prática. Como confiar numa agenda que prega justiça fiscal quando seu principal defensor usufrui de um benefício financeiro tão expressivo? A contradição, mesmo que jurídica e formalmente justificada, cria uma percepção de dupla moral que pode corroer a credibilidade do projeto político de Lula.É legítimo e necessário combater as desigualdades sociais e promover um sistema tributário mais justo, mas a política pública deve se sustentar na transparência e na equidade — para todos. Não se trata apenas de impessoalidade legal, mas também de ética e exemplaridade no exercício do poder. Quando a máxima da “luta de classes” não se aplica uniformemente, a polarização e a desconfiança se aprofundam, fragilizando o debate público e a própria governabilidade.Além disso, a declaração de um patrimônio milionário pelo presidente reforça o debate sobre quem realmente são os “ricos” na mira da taxação. Há uma diferença entre promover justiça social e simplesmente retórica populista que agrada bases eleitorais, mas escapa do crivo da autocrítica.Se Lula quer liderar uma mudança estrutural no Brasil, ele precisa mostrar que está disposto a jogar pelo mesmo conjunto de regras que exige para a população. O perdão de R$ 18 milhões não é apenas um episódio jurídico, mas um símbolo das complexas contradições que rondam sua administração.Neste cenário, a luta por justiça social precisa ir além da retórica e se afirmar na coerência, na transparência e no compromisso real com a igualdade para todos — inclusive para quem está no topo do poder.