Em um país que se orgulha de ser uma democracia representativa, a imagem de 594 parlamentares – 513 deputados e 81 senadores – derrotados pela decisão solitária de um ministro do Supremo Tribunal Federal deveria soar, no mínimo, alarmante. Mas, no Brasil, esse enredo já não causa espanto; virou rotina.
Nesta semana, mais uma vez, uma canetada do STF anulou uma decisão do Congresso, deixando claro quem realmente governa. E a pergunta que não quer calar: onde termina o Judiciário e começa a usurpação da vontade popular?
O caso expõe a fragilidade das instituições e levanta uma questão crucial: se o voto de milhões pode ser atropelado por um único homem togado, qual é o valor real da democracia brasileira?
Estamos diante de uma inversão perigosa de poderes. O Congresso, mesmo com todos os seus defeitos, é eleito pelo povo. O Supremo, não. No entanto, decisões judiciais passaram a ditar rumos econômicos, sociais e até políticos, ignorando o debate legislativo e impondo interpretações individuais sobre a Constituição.
Mais grave ainda é a naturalização desse cenário. Governos, partidos e líderes políticos, acuados ou coniventes, parecem aceitar que a caneta de um ministro tenha mais peso do que 594 mandatos legitimados pelas urnas.
Democracia se faz com freios e contrapesos. Mas quando um poder se sobrepõe aos demais e age sem limites claros, não se trata mais de equilíbrio: é supremacia. E o preço disso pode ser a erosão silenciosa da República.
Por Marcos Soares
Jornalista – Analista Político instagram.com/@marcossoaresrj | instagram.com/@falageraltv