A volta do depoimento explosivo desmonta a narrativa de inocência e reacende a pergunta: quem realmente está acima da lei?
O Brasil acordou novamente diante de um fantasma que insiste em assombrar a política nacional: o depoimento de Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, afirmando a Sérgio Moro que Luiz Inácio Lula da Silva orientou a destruição de provas de propina. O vídeo, que viralizou nas redes, não é novidade. Mas a comoção que ele provoca mostra que o país ainda não cicatrizou a ferida aberta pela corrupção sistêmica revelada pela Operação Lava Jato.
É curioso – para não dizer revoltante – ver que esse mesmo depoimento, que sustentou a condenação de Lula em três instâncias, hoje é tratado como “narrativa superada”. Não foi a inocência que absolveu o ex-presidente, mas uma decisão do STF que anulou os processos por questões processuais, não por falta de provas. Essa diferença parece não importar para quem insiste em pintar Lula como vítima.
Enquanto as redes sociais fervem com hashtags como #LulaMentiu, o governo e seus aliados tratam a viralização do vídeo como “fake news eleitoral”. Mas será fake news lembrar que um empreiteiro admitiu ter sido instruído a destruir evidências? Será mentira recordar que bilhões foram drenados dos cofres públicos, comprometendo hospitais, escolas e infraestrutura?
A narrativa da perseguição política é conveniente. Serve para blindar um projeto de poder que, sob o pretexto da justiça social, tolerou – ou pior, comandou – um dos maiores esquemas de corrupção da história. E o mais alarmante: grande parte da imprensa e do Judiciário parece ter aceitado, com naturalidade, o sepultamento da Lava Jato.
O vídeo reacende um debate necessário: quem realmente está acima da lei no Brasil? Quem decide o que é prova, o que é narrativa e o que é “perdão judicial”? A Justiça foi feita ou foi negociada?
Enquanto essas perguntas ecoam, o cidadão comum segue pagando a conta da impunidade. E não será com hashtags ou com discursos inflamados que recuperaremos a moralidade pública.
A história pode ser reescrita nos tribunais, mas a memória do povo – essa, felizmente, é mais difícil de apagar.
Por Marcos Soares
Jornalista – Analista Político instagram.com/@marcossoaresrj | instagram.com/@falageraltv